Um sentimento estranho começou a se apoderar de mim, sem pedir permissão, sem que eu autorizasse essa invasão, comecei a estranhar o fato de sentir coisas que há muito tempo não sentia, uma forte angústia invadiu o meu peito e a sensação de algo me sufocasse tomou conta de mim, ao ponto de fazer com que eu me tornasse insensível a tudo que acontecesse ao meu redor, era como se nada pudesse me satisfazer. Sem saber o que estava acontecendo, comecei a indagar a mim mesma de onde vinha tal sentimento, dentro da minha incurável curiosidade e da busca incessante dos porquês, passei a buscar uma razão ou uma causa para que tal sentimento me dominasse assim, súbita e inesperadamente.
A minha procura, porém foi sem êxito ou sucesso algum, as respostas que eu buscava simplesmente não existiam e acabei desistindo. Comecei então a buscar remédios ou cura pra tal dor, procurei desesperadamente por algum tipo de ocupação que desviasse a minha atenção desse sentimento tão incômodo, precisava encontrar algo que preenchesse aquele vazio que tomava conta de mim, a sensação era como se existisse um abismo, uma cratera e, que por mais tentativas que eu fizesse de tentar preencher tal espaço, o contrário sempre acontecia.
O local em eu me encontrava naquele momento, era muito pequeno, por maior que fosse o espaço físico, ele sempre diminuía, dava a impressão que as paredes se fechavam em torno de mim, decidi sair dali e dar uma volta.
Segui caminhando por alguns minutos, sem lugar certo, sem rumo. Observava tudo ao meu redor, as pessoas que seguiam apressadas ou lentamente, com destinos certos de chegada, as luzes acesas dos postes que iluminavam as ruas por onde eu passava os carros com seus ocupantes e motoristas impacientes que desorganizavam o trânsito, atravessando os sinais fechados e usavam suas buzinas de forma irritante e interminável. Logo adiante, percebi que estava próximo do calçadão da praia, senti que estava me aproximando de um ambiente familiar e aconchegante, logo abaixo do calçadão estava a praia me convidando a entrar, a areia estava limpa e bem iluminada, o mar, porém muito escuro, mal dava pra ver a formação das ondas, mas o som que as ondas faziam era deliciosamente perceptivo.
Despi-me das sandálias que incomodavam os meus pés e deixei a sensação maravilhosa de acolhida se apoderar do meu corpo. Sentei-me por um momento, respirei profundamente e deixei o ambiente de paz penetrar em minha mente cansada de pensar. Voltei toda a minha atenção para o mar, observei atentamente as ondas se formando lentamente e livremente deixando-se impactar na areia gerando o mais melodioso som, que me embriagava e ao mesmo tempo relaxava meu corpo tenso, aos poucos lá no fundo a lua começava a estrear seu mais deslumbrante espetáculo, a medida que surgia no céu trazia consigo cores diferentes que tonificavam o céu e o mar ao mesmo tempo, além de iluminar a tudo e a todos que estavam a seu alcance.
Senti que a Paz que aquele cenário trazia, tomava de conta do vazio que me fizera chegar naquele lugar. Cada vez mais eu me deixava envolver por aquele encanto, caí deitada por alguns minutos naquela areia gélida pela noite e por alguns instantes eu nada ouvia, nada falava, nada pensava e nada sentia. Abri os olhos e no céu as estrelas brilhavam intensamente, pude vê-las dançando. E, essa incrível dança desenhava imagens, desenhos que se misturavam aos meus pensamentos e traziam a tona lembranças maravilhosas que tenho de você. Pude lembrar de cada detalhe do teu rosto, do desenho dos teus lábios, da profundidade do teu olhar, da força da tua respiração, do teu cheiro embriagador, ao mesmo tempo em que surgiam lembranças lindas das nossas risadas juntos depois de ouvirmos uma piada, dos projetos de vida que cada um de nós idealizou, das vontades, dos desejos, das teimosias, dos passeios, das aventuras, dos encontros...
Comecei a perceber que a possível causa ou razão da angústia e do vazio era a distância, a falta de tempo, ou seja, era a sua ausência que me fazia sofrer. Eu simplesmente não queria reconhecer a falta que você me faz.
Eu me lembro sempre de você, onde quer que eu vá. Só há um pensamento em qualquer lugar, só penso em você, em querer te encontrar, rezo para que a noite chegue logo, só para ter você em meus sonhos, me falando coisas que sempre quis ouvir de você.
Eu faria tudo para não te perder, porém ninguém pertence a ninguém, e não poderei jamais forçá-lo a estar ao meu lado, sem que realmente você quisesse estar. E, infelizmente, sou obrigada a deixá-lo ir.
Luisa Monteiro
07.05.2007